viver a vida como quem está atento à ela
sobre o poder da escrita, o método bullet journal e a magia das palavras
» tempo de leitura: 6 minutos e 13 segundos
» para ler ouvindo: Tanta Coisa Numa Só
quando eu penso em escrita, eu penso em magia. quando eu penso na força das palavras, eu penso que elas nos organizam em um nível muito profundo – sutil, simbólico, e prático e material ao mesmo tempo. escrever é feitiçaria.
e essa analogia entre o mágico e o mundano,
é o paralelo que vamos percorrer hoje.
– Todos nós somos a invenção de alguém
diz um personagem no livro Oração Para Desaparecer, da Socorro Acioli.
leio esse livro um pouco antes escrever essa newsletter e fico pensando na força que a nossa imaginação e que as nossas palavras tem. na força que a gente tem quando estamos juntos e perto e em relação com as palavras. pensa comigo:
viver é inventar.
escrever, em alguma medida, é ser testemunha da vida que está sendo vivida nesse exato instante. escrever é imaginar o futuro – e, também, saborear o passado. viver a vida como quem está atento à ela envolve o ato da escrita.
escrever é, também,
roubar-se tempo.
e essa introdução serviria para dezenas de livros lindos que eu já li – ou até mesmo para uma simples e direta apologia ao poder das palavras, como já fiz aqui antes. mas hoje, em especial, eu venho defender uma prática que sempre foi muito badalada, muito popular e, ao mesmo tempo, muito misteriosa pra mim.
eu finalmente li o livro
do Método Bullet Journal
e ele foi o primeiro livro lido em esse ano.
PS: muitas pessoas me perguntam por recomendações de livros sobre produtividade, gestão de tempo e organização pessoal. posso te contar um segredo? faz mais de dez anos que eu não leio quase nenhum livro sobre isso.
com algumas boas y raras exceções listadas aqui, o meu tempo de leitura é voltado apenas para os temas que me acendem por dentro. a poesia, o absurdo, o realismo mágico, os romances, os relatos autobiográficos e coisas de tipo.
já passei da minha época
de ler livros de homem hétero
cis branco botando banca
de produtividade.
ainda assim: peguei esse livro para ler e me dei conta que eu ouvia falar sobre o Bullet Journal há anos, já vi vários livros sobre ele, e nunca tinha pego o material direto da fonte para ver o que ele dizia. algumas pérolas me saltaram aos olhos.
essa é a resenha que eu prometi pra o pessoal do instagram.
1️⃣ não subestime o poder do pequeno
depois de ver dezenas de vídeos bem produzidos com caderno altamente decorados e complexos, eu me surpreendi de aprender que o método do Bullet Journal é altamente simples, direto e te pede para focar na objetividade.
isso fez muito sentido pra mim e adorou bem com as outras formas de escrita que eu vinha fazendo. há um ano atrás eu comecei uma espécie de commonplace book (ou um livro de lugar comum – clique aqui pra saber mais sobre ele), mas eu sempre senti que tinha algo que não estava cabendo muito bem ali.
lendo o Ryder Carroll, eu entendi o que era.
as minhas listas de itens incubados, o meu desenho do foco do mês ou da quinzena. pequenas anotações importante sobre o que aconteceu no dia, com o que eu sonhei naquela noite ou qual ideia genial eu tive aquele dia –
– tudo isso vivia sem casa.
ter um lugar para anotar pequenas coisas de forma simples – sem altas elocubrações, sem prosa poética, sem muito raciocínio prévio – é fundamental. agora, todas pequenas coisas do dia-a-dia escoam para o Bullet Journal.
a minha mente agradece e já ficou mais organizada por conta disso.
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2️⃣ simplificar aumenta o seu foco
eu adorei a ideia de um Caderno Para Tudo Governar.
por mais que escrever à mão não seja a principal ideia de produtividade & de tempo bem investido para a maioria de nós, eu sei como o acesso à aplicativos e à soluções de organização e de produtividade nos deixam doentes das ideias.
quem nunca passou horas pulando entre mil tutoriais e textos para aprender a usar um novo aplicativo, com cara de muito bonito, que prometia mudar a nossa vida? quem nunca comprou o planner feito com o método de organização mental de outra pessoa e terminou abandonando o dito cujo antes do meio do ano? 🤷🏻
o Ryder Carroll é o rei da simplicidade.
e ele te diz para concentrar todas as suas notas, listas e referências em um único caderno. como diz o Tiago Forte, no seu livro: “A nossa meta é conseguir nor organizar para viver melhor, e não para ter um PhD em organização”.
quando tu tem uma ferramenta segura e simples, tudo fica mais fácil.
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3️⃣ escrever à mão desacelera o tempo
eu amei o foco, o poder e a paixão que o autor coloca na importância de escrever à mão. por mais difícil que seja fazermos isso 100% do tempo pro trabalho, escrever com calma é uma forma muito acessível e antiga de resistência. eu amei, em especial, a ideia de sempre passarmos as nossas atarefas à limpo.
ele te diz para anotar as suas tarefas conforme elas surgem.
e com o passar do tempo – dos dias, das semanas, dos meses – ele te ensina a um método bem simples para levar essas tarefas para o futuro. eis o pulo do gato: toda essa re-escrita de tarefas é feita à mão e ele insiste no valor disso.
eu me apaixonei nessa ideia.
são tantas as tarefas que a gente recebe. e se a gente conseguisse, nem que seja com as nossas coisas pessoais, fora do trabalho, colocar o pé no freio, desacelerar e de fato refletir sobre o porquê de estarmos fazendo cada um dessas tarefas?
já pensou que coisa louca, PENSAR SOBRE o que você vai fazer? anotar?
sentir o gosto daquela ideia? daquela ação? escrever é uma forma antiga de curandeira, eu acredito. a gente começa nas obrigações, no que precisamos tirar da cabeça para não nos afogarmos nas demandas – e, mais dia menos dia, estamos escrevendo livremente. só porque sim. só porque merecemos ser ouvidas.
merecemos ser lidas;
principalmente por nós mesmas.
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4️⃣ Bullet Journal + Caderno Proibido é o combo perfeito
é impossível escrever tudo isso e não lembrar da vida doce, amarga e profundamente revolucionária da Valeria Cossati – a personagem que rouba a cena, que rouba toda a minha vida, no livro Caderno Proibido. que livro, gente.
QUE LIVRO!
você precisa ler e dar ele de presente pra sua melhora amiga.
fico pensando na sorte que temos de termos mulheres escrevendo mais ou menos autobiograficamente sobre a vida delas – e, portanto, sobre a vida de todas nós. pra mim, escrever é sempre um ato de presença radical.
e se você nunca leu a coluna B dessa newsletter, clica aqui pra ler. ela te mostra um pouco do mundo que eu habito quando A Palavra é a minha única ordem.
✱ leia a edição anterior:
✱ o retorno do youtube:
um bingo divertido pra você se entreter. depois me diz o que achou? :)
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Ana, tô lendo "Os livros de Terramar", de Ursula Kroeger Le Guin, uma saga de fantasia heróica muito interessante, escrita durante uma par de décadas. No mundo de Terramar, basicamente a magia dos feiticeiros se trata de saber os nomes das coisas, das pessoas, em diversas línguas, conhecer as palavras, as histórias, todas elas, saber trocar ideia até com dragão e com tudo isso, fazer os encantamentos. O resto, é viver vivendo. Acho que vc pode gostar desses escritos. Um cheiro.
Sempre li, assisti a vídeos sobre o método do Bullet Journal e nunca consegui me antenar com toda a áurea que alguns colocam nele. Como se fosse algo sobrenatural e hoje consegui ler algo mais realista, mais pé no chão que me deu até vontade de ler o livro e em fim praticar durante meu dia esse método. Sem as peias daqueles cadernos pomposos, mas um simples caderno a tira colo. Obrigado pelo texto.